sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sábias análises

Pelo mundo inteiro, ao longo dos tempos, tem sido a resignação de uns que permite a opulência de outros. Relembremos :

Maiakovski, poeta russo, no início do Séc. XX:
“Na primeira noite, eles aproximam-se e colhem uma flor do nosso jardim. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão. E não dizemos nada. Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.

Bertold Brecht fez a sua observação:
"Primeiro levaram os negros. Mas não me importei com isso. Eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários. Mas não me importei com isso. Eu também não era operário. Depois prenderam os miseráveis. Mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados. Mas como tenho meu emprego, também não me importei. Agora levam-me a mim. Mas já é tarde. Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo."

Não é por ter lido estas reflexões que agi. Mas acho que me deram algum ânimo.

2 comentários:

Unknown disse...

Boa tarde Caro Fernando Andrade,

Ao ver tanta poesia junta também a mim me apetece citar vários autores:

DVD - "Panda vai à escola"
"Cinco macaquinhos saltavam na cama,
Um caiu com a cabeça no chão,
A mamã ligou p'ro médico e ele disse:
Nada de macacos a saltar no colchão!
Tu vais cair,
Nada de macacos a saltar no colchão"

Que bela alegoria acerca dos macacos que exagerando nas suas brincadeiras acabam eventualmente por se magoarem...

Poema com letra e música de Silva Tavares e António Melo, cantado por Milú, em 1943, no filme "O Costa do Castelo"
"Que saudades eu já tinha
Da minha alegre casinha
Tão modesta como eu
Como é bom meu Deus morar
Assim num primeiro andar
A contar vindo do céu"

A satisfação e a alegria dos "tesos" e dos "modestos" que habitam alegres casinhas...

Xutos & Pontapés - Álbum Circo de Feras - 1987
"Pensas que eu sou um caso isolado
Não sou o único a olhar o céu
A ver os sonhos partirem
À espera que algo aconteça
A despejar a minha raiva
A viver as emoções
A desejar o que não tive
Agarrado às tentações

E quando as nuvens partirem
O céu azul ficará
E quando as trevas se abrirem
Vais ver, o sol brilhará
Vais ver, o sol brilhará"

A certeza de que quando olhamos para cima nem sempre vemos o sol, mas o céu....esse sempre lá estará.

Luís Vaz de Camões - Os Lusíadas - Último verso:
"Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja."

Sem grande comentários...só questionando-me porque Camões decidiu acabar o seu épico com aquela palavra.

Cumprimentos,
João Santos

Fernando Andrade. disse...

Fantástico momento, Caro João.
A sua selecta é rica e traz a este modesto espaço (ou "modesta casinha") um toque poético inesperado, mas de muito valor.
Obrigado por isso.
Permito-me, no entanto, discordar do sentido que quer dar às excelentes obras que tão bem citou.
1-posso fazer a figura do macaco (mas não estoui a brincar), posso fazer a figura do cão que ladra à caravana (conforme já disse noutro momento), mas não me vou calar;
2-A "alegre casinha" se já é modesta continuará a ser modesta se lhe puserem um muro de 12m à frente !Assim sendo, na sua óptica, não tenho qualquer razão nio protesto.
3- "Quando as núvens partirem", fica o muro e o sol continuará a brilhar, mas não naminha rua.
4- Prefiro esta:
"Mas eu, que falo humilde, baxo e rudo,
De vós não conhecido nem sonhado,
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo
Com longa experiência misturado,
Nem engenho que aqui vereis presente
Cousas que juntas se acham raramente."

E vou resistindo à estrofe que diz:

"Não mais, Musa, não mais que a lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida
E não do canto mas de ver que venho cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e da rudeza de uma austera, apagada e vil tristeza."

...mas farei dela bandeira, quando já não acreditar no meu país.
Por mais ridículo que seja invocar a verdade.

Cumprimentos.
FA