A Justiça, como todos sabem, já não é o que era: branda para quem prevarica e complexa para quem quer colaborar com ela.
Sempre me habituei a ver a Justiça como um “dom” da sociedade, através do qual os maus eram punidos e os bons eram protegidos, sendo que o conceito de “bem” e de “mal” estava na consciência de cada um.
Hoje, o que se passa é que não importa fazer-se mal. A menos que se seja “apanhado”. A cultura da consciência individual já tem pouco a ver com o que a Justiça acaba por julgar, rendida que está ao primado da forma sobre o conteúdo. Não basta apresentar factos que, mesmo simples, têm que ser “metidos” em “embalagens atraentes”, por “mãos hábeis” a que o comum do cidadão não consegue recorrer. Só assim serão julgados.
Já não existem maus! Um cidadão já só pode falar em “presumivelmente maus”, mesmo que os tenha “apanhado” a cometer o crime mais hediondo. Quando deixar de ser “presumível” e passar a ser mesmo “mau” já se foi o tempo em que a pena a aplicar seria a justa.
Por outro lado, se eu vir alguém a roubar e lhe chamar “ladrão” corro sério risco de ser processado por “difamação” porque quem roubou achou que usei um termo injurioso e não o poderia ter feito em público. O mesmo acontece se eu vir alguém a cometer um crime de desobediência e o denunciar.
Neste caso concreto que temos vindo a acompanhar, com a cumplicidade descarada da Câmara e a mais vergonhosa imunidade do prevaricador, o que acontece é... nada! E o pior é que se fica com a sensação de vivermos em dois países: O das Leis a que todos os cidadãos estão igualmente sujeitos (diz o “livrinho”) e o outro, o real, que nos entristece e indigna sem que a razão tenha qualquer peso.
Já Platão dizia que os virtuosos não precisam da Lei para agir correctamente, enquanto que os “outros” saberão sempre como contorná-la.
... E o “armazém” acabou hoje de ser revestido.
Hão-de vir dizer que agora já não se pode fazer nada. E não era isso que o dono queria ouvir ? e há-de rir-se a bom rir de mim e do desgraçado país que temos e daqueles que tendo o dever de se fazer respeitar, o deixaram levar por diante os seus desígnios.
3 comentários:
Mas já recorreu ao Provedor da Justiça ou ainda não recorreu?
Sim, sim.E telefonei.
Processo nº 212.
Mas "está tudo muito atrasado"...
Qualquer dia coloco aqui a lista das "portas " a que já bati. Só não o faço ainda, porque posso ser deselegante para alguém que, eventualmente, possa estar a trabalhar no processo.
Se há coisa que me enoja é a impunidade...
http://jornal.publico.clix.pt/noticia/16-02-2010/demolicao-de-casa-de-exautarca-encalhou-no-tribunal-ha-dois-anos-18801065.htm
http://jornal.publico.clix.pt/noticia/16-02-2010/ministerio-diz-que-nao-podia-demolir-apos-o-acordao-do-sta-18801073.htm
Enviar um comentário